Sobre a visita do Papa Francisco

A presença do Papa Francisco no Brasil por ocasião da Jornada Mundial da Juventude foi o assunto da semana que passou. Esta é a primeira viagem internacional do Bispo de Roma, primeiro Papa latino-americano, eleito em março deste ano no Vaticano. Ninguém pode negar que a palavra do líder católico deu o que falar em todas as classes sociais de nosso país. Quero deixar aqui minhas impressões sobre o que ouvi do Papa, fazendo observações sobre sua fala e acontecimentos.

O Papa foi recebido pela presidente Dilma Rousseff no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Em sua primeira fala, o Papa disse: “Aprendi que para ter acesso ao povo brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração. Por isso, permita-me que nessa hora eu possa bater delicadamente a esta porta”. Bela palavra de um pastor ao seu rebanho. Disse ainda: “Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado – Jesus Cristo”. Ah! Se todos os pastores pudessem falar e vivenciar essas palavras do apóstolo Pedro junto à porta do templo chamada Formosa, por ocasião da cura de um coxo! O Papa falou que o propósito principal de sua visita é confirmar a fé dos irmãos em Cristo. Veio para a Jornada Mundial da Juventude, e disse que “Cristo bota fé nos jovens. E também os jovens botam fé em Cristo”. Durante o trajeto pelas ruas o papamóvel ficou detido em um congestionamento no meio do povo, mas o Papa manteve o vidro aberto para cumprimentar e tocar nas pessoas.

Entre os vários programas da agenda do Papa no decorrer da semana que passou no Brasil, quero considerar a entrevista que ele concedeu ao repórter Gerson Camarotti da Rede Globo. Gostei da entrevista de quarenta minutos e destaco várias falas do padre, fazendo alguns comentários acerca do que ele disse:

Quando o repórter perguntou se ele teve medo quando seu carro ficou cercado pela multidão numa avenida, no Rio de Janeiro, ele disse: “Eu não sinto medo. Sou inconsciente. Sei que ninguém morre na véspera. Quando for minha vez, o que Deus permitir, assim será”. Uma palavra de confiança em Deus, humildade e simplicidade. Disse que rejeitou o papamóvel de Roma porque não queria visitar o povo brasileiro dentro de uma caixa de vidro. Disse que baixou o vidro do carro que o conduziu porque queria cumprimentar o povo e tocar nele, tendo assim um contato de verdade, pois com ele “é tudo ou nada”, - “comunicação pela metade não faz bem”. “Vim visitar gente, e quero tratá-los como gente. Tocando-as”, disse. Esse é um exemplo de como um pastor deve ser acessível, como o foi Jesus.

Perguntado sobre as críticas à Igreja Católica e os escândalos dos últimos anos, ele disse: “Faz mais barulho uma árvore que cai do que um bosque que cresce”, depois citou uma frase antiga que talvez venha dos dias medievais: “A Igreja sempre precisa ser reformada”, caso contrário, ela fica para trás. Usou uma expressão que precisa ser ouvida pela Igreja evangélica: “A Igreja é dinâmica e responde às coisas da vida”.

O exemplo da árvore que cai mostra o quanto um escândalo faz mal no meio do povo que confessa o nome do Senhor, ao ponto de Jesus dizer: “É inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual eles vêm! Melhor fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse atirado no mar, do que fazer tropeçar a um destes pequeninos”. Sobre a necessidade de a Igreja ser reformada sempre, acho que isso se aplica diretamente ao que chamamos hoje de igreja evangélica. Aliás, não é de reforma que a “igreja” precisa; isso já foi feito no século XVI. A grande necessidade é voltar às origens, como nos dias de Jesus, tendo como fundamento de fé as verdades do Evangelho. A “igreja evangélica” precisa deixar de ser um monumento para ser um movimento como Jesus sempre quis que sua Igreja fosse. Leia o Novo Testamento e veja o disparate entre ser crente hoje e ser discípulo de Jesus.

Quando o repórter perguntou sobre o carro simples que ele usa, disse: “Penso que temos que dar testemunho de certa simplicidade. Eu diria, inclusive, de pobreza. O povo sente seu coração magoado quando as pessoas consagradas são apegadas ao dinheiro. Isso é ruim. Acredito que Deus está nos pedindo, neste momento, mais simplicidade”.

Quando ouvi o Papa falar isso, me reportei a uma passagem da primeira carta do apóstolo Pedro que diz: “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória”. A palavra do Papa: “Deus está nos pedindo, neste momento, mais simplicidade”, é um tapa na Teologia da Prosperidade, tão valorizada no meio evangélico.

Sobre a evasão de católicos para a Igreja Evangélica e outras crenças, o Papa disse não saber a causa, mas comentou o seguinte: “Vou levantar uma hipótese. Para mim é fundamental a proximidade da Igreja. Porque a Igreja é mãe, e nem você nem eu conhecemos uma mãe por correspondência. A mãe dá carinho, toca, beija, ama. Quando a Igreja, ocupada com mil coisas, se descuida dessa proximidade, e só se comunica com documentos é como uma mãe que se comunica com seu filho por carta”. Eu vi esse filme durante anos no meio evangélico.

Sobre os protestos dos jovens pelas ruas do Brasil semanas atrás, o Papa disse: “Um jovem que não protesta não me agrada. Porque o jovem tem a ilusão da utopia, e a utopia não é sempre negativa. A utopia é respirar e olhar adiante. O jovem é mais espontâneo, não tem tanta experiência de vida, é verdade. Mas a experiência nos freia. Ele tem mais energia para defender suas ideias. O jovem é essencialmente um inconformista. E isso é muito lindo! Isso é algo comum a todos os jovens. Então eu diria que, de uma forma geral, é preciso ouvir os jovens, dar-lhes meios de se expressar, e cuidar para que não sejam manipulados”.

O Papa ainda alertou contra a tendência mundial de descartar os jovens e os idosos do sistema econômico e do trabalho. Falou de injustiça social e da necessidade de cuidar da saúde e da alimentação dos que mais necessitam. Terminou chamando todos a se juntarem para trabalhar pelo bem comum da humanidade, dizendo: “Não vai adiantar nada falar das teologias se não tivermos a proximidade de sair para ajudar e acolher o próximo, sobretudo neste mundo em que se cai tanto da torre e ninguém diz nada”.

Acredito que a visita do Papa Francisco ao Brasil nesse mês de julho de 2013 mexeu com muita gente boa, não apenas católicos, mas muita gente de várias crenças. A fala e as atitudes do Papa deixaram a nítida impressão que esse é um homem do bem. É uma pena que não se possa dizer o mesmo de muitos pastores, arrogantes, prepotentes, com mania de grandeza, vaidosos, materialistas, alguns com vasto conhecimento, mas sem amor, e tantas outras coisas desagradáveis que não condizem com o espírito do evangelho de Jesus.

Antonio Francisco – Cuiabá, 1 de agosto de 2013 – Voltar para Mensagens.

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