As igrejas e os gays

Como as igrejas tratam os gays? Esse é um assunto muito comentado nestes dias, e as opiniões são as mais diversas, havendo pouco acordo entre o que as igrejas dizem, o que os gays pensam, e o que as pessoas que não são de igrejas nem gays entendem sobre essa questão. Quero falar diretamente para as igrejas porque de lá eu vim e sei muito bem como os gays são tratados no ambiente evangélico. Não tem como negar que os gays são marginalizados nas igrejas.

Ontem mesmo ouvi sobre um casal que esta semana foi ao cartório oficializar o divórcio. Casados há apenas um ano ela descobriu que ele é gay e não quis mais continuar casada com ele. Esse caso não é inédito, pelo contrário, é comum descobrir homens e mulheres que são gays enrustidos dentro das igrejas. Essas pessoas vivem “dentro do armário” porque não podem assumir a sua condição homossexual sob pena de serem excluídas do meio ou no mínimo serem deixadas de lado na convivência “fraterna”. A luta contra a homossexualidade atinge todas as classes da igreja – pastores, filhos de pastores, presbíteros, diáconos, crianças, jovens, solteiros e casados. Muitos "matam um leão" por dia para não se exporem nem darem vazão aos seus desejos. As pessoas não podem mostrar suas fraquezas.

Acredito que alguns nascem gays, outros são feitos gays, e ainda outros se fizeram gays. Os que têm uma condição homossexual são gays por toda a vida porque nasceram assim. Esses não mudam. Aqueles que são feitos homossexuais geralmente são vítimas de abuso sexual na infância ou até mesmo de uma criação disfuncional. Muitas crianças abusadas por adultos se viciam com o sexo anal visto terem recebido o primeiro estímulo erótico naquela área. Esses sofrem muito com a culpa porque sabem não serem exatamente gays. Eles podem ser tratados se quiserem mudar. Os que se fizeram gays optaram pelo prazer do sexo anal e adotaram esse estilo. Esses também podem mudar se quiserem, mas isso não é tão fácil uma vez acostumados com o prazer anal. Essas distinções são necessárias.

Os que nascem gays se apaixonam, buscam uma relação monogâmica e estável com o parceiro. Eles querem afeto e esperam receber isso numa relação homossexual. Os demais buscam transas e o prazer pelo prazer. Por isso, há tanta promiscuidade relacionada com os "feitos gays" e os que "se fizeram gays". A igreja deve estar aberta para todos.

A condição homossexual não muda (exceto por um milagre). Mas aqueles que se viciaram no sexo anal por terem assimilado o prazer sexual por essa via e os que gostam do sexo anal por diversão, podem mudar se quiserem deixar esse comportamento, por uma questão de consciência e não de culpa religiosa. O celibato é uma escolha feita por quem consciente de sua condição homossexual, resolve não praticar sexo com uma pessoa do mesmo sexo. Muitas pessoas piedosas já fizeram essa escolha mesmo tendo os desejos homossexuais.

Um gay pode ser de Jesus. Sim. Se você e eu podemos ser de Jesus, o gay pode igualmente ser de Jesus. Os gays não são mais pecadores do que aqueles que não são gays. Se não nos arrependermos, todos igualmente pereceremos em nossos pecados. Não podemos fazer uma seleção de pecados e deixar outros de fora como é comum fazer nas igrejas onde se pinça versículos isolados para apoiar argumentos humanos.

O Antigo Testamento proibia que um homem se deitasse com outro homem como se fosse mulher. Mas, se olharmos todos os mandamentos condenatórios apenas na área sexual, não escapa ninguém. No Novo Testamento as listas de pecados nos evangelhos e nas cartas são várias. Uma delas que reprova os efeminados e sodomitas, também condena os injustos, os impuros, os idólatras, os adúlteros, os ladrões, os avarentos, os bêbados, os maldizentes, e os roubadores. Esses pecados não afetam apenas o comportamento, mas o interior do nosso ser, o que coloca todos sob a condenação divina, “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”. Mas o texto termina dizendo: “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1Co 6.9-11). Jesus perdoa igualmente gays e não gays.

O texto de Romanos 1 que diz ter Deus entregue aqueles homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro; esse texto não foi escrito para condenar o homossexual mas sim o “homossexualismo”, a suruba, o bacanal, a orgia. Esse era o contexto daquela sociedade libertina que Paulo censurava.

Deus criou o homem e a mulher para a união conjugal. Essa é a referência, é o ideal de Deus. Mas Deus criou também o gay. Ele é igualmente criação de Deus e amado por Deus como as demais pessoas. Existem os distúrbios hormonais, as anomalias genéticas e físicas (hermafroditas, por exemplo). Depois que o pecado entrou no mundo, todas as anomalias são possíveis, inclusive na área sexual. Quando digo anomalia, não estou dizendo que o gay é um doente, pois não acredito nisso, pelo contrário, estou dizendo apenas que ele nasceu diferente daquele ideal inicial de Gênesis, e a igreja deve ser capaz de absorver isso.

De volta para Roma, depois da visita ao Brasil, o Papa Francisco conversou com os jornalistas no avião. Ao ser perguntado sobre o lobby gay, ele disse: “Acho que devemos distinguir o gay do lobby. Porque todos os lobbys são ruins. Se uma pessoa é gay e procura Jesus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”. Gostei dessa resposta do Papa porque eu também não concordo com o lobby gay, a pressão em prol do homossexualismo, como se ele fosse referência de sexualidade como o é a heterossexualidade. Porém, não se deve desprezar o gay, rejeitá-lo, ou diminui-lo. Ninguém deve julgar ou condenar o gay ou quem quer que seja.

O que as igrejas têm feito por essas pessoas? Pouco. O discurso é que todos são amados, que Deus não ama o pecado, mas ama o pecador, que todos são bem-vindos. Porém, na prática as coisas não são tão amáveis assim. Certamente existem igrejas abertas com pessoas maduras que encarnam o espírito do evangelho que é o amor, mas isso é exceção. Eu mesmo já fui impedido de batizar um rapaz que foi criado na igreja, que confessava o nome de Jesus, que conhecia a Bíblia como poucos na igreja, mas que não foi aceito como membro da igreja porque era afeminado. Jesus certamente aceita aquele moço.

As igrejas devem parar de discriminar e categorizar as pessoas. Ela deve abraçar e receber a todos. A igreja não é dona de ninguém e seu papel não é julgar, mas anunciar que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo. A igreja deve ser mais prática e tratar da vida como ela é, abrindo espaço para conversar sobre sexo de forma franca, bíblica e amorosa.
Antonio Francisco – Cuiabá, 3 de agosto de 2013 – Voltar para Mensagens.

Comentários

Diana disse…
Olá Antonio, me chamo Diana sou evangélica e concordo plenamente que, como você mesmo disse a igreja não tem feito seu papel. Creio que você usou os versículos de forma isolada, pois Deus realmente não condena o homossexual, assim como não condena o adúltero, porém ele condena tanto o homossexualismo quanto o adultério, o primeiro assim como o segundo podem desestruturar e até destruir famílias. Somos todos pecadores, mas não podemos viver na prática do mesmo, sim tenho pecados, mas quando escolho viver na prática do pecado o Espírito Santo de Deus se afasta de mim. Por isso, na Palavra de Deus diz que não andarão dois juntos sem comum acordo,creio que devo sim falar e não discriminar o homossexual como qualquer outro pecador, porém se ele quiser mudança andarei com ele o ajudarei em tudo que precisar, se ele achar que não precisa de mudança e que não precisa de Deus em sua vida, vou me afastar pois não vou estar de comum acordo com esta decisão. Viver em busca do céu com Cristo é muito melhor que os prazeres desse mundo.