A neurose de agradar a Deus

Agradar a Deus é salutar para todos, mas pode se transformar em neurose. Vivi no meio evangélico por trinta e quatro anos e constatei que a culpa atormenta aquela gente de maneira latente - mesmo que a Bíblia diga que feliz é a pessoa que tem seus erros perdoados e os seus pecados apagados por Deus. A maioria vive presa no dever de agradar a Deus como se tivessem uma dívida impagável com o Eterno. A sensação é que a dívida nunca é paga porque Deus é muito exigente.

A necessidade de fazer algo para agradar a Deus está tão impregnada nesse meio, que, quanto mais a pessoa se “consagra”, mais ela “faz” para Deus e mais quer “fazer” para agradá-lo com suas obras como evidência de sua “santidade”. Dizer que tudo está pago e que não existe mais nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus, pode até ter um assentimento mental, mas não traz mudança comportamental na maioria. Isto porque nossa maior dificuldade é descansar completamente na graça de Deus aceitando seu amor por nós sem apresentar nenhuma justiça própria. Saber e viver com a consciência que sou um pecador amado, aceito e perdoado por Cristo Jesus sem nenhuma condenação, é tudo o que preciso fazer para agradar a Deus. Enquanto isso não for verdade em mim, não conheço a Deus.

Deus falou através do profeta Isaías para a nação de Israel: “Em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação; na tranquilidade e na confiança, a vossa força, mas não o quisestes”. Certa ocasião uma multidão perguntou para Jesus: “Que faremos para realizar as obras de Deus? Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado”. É crendo que agrado a Deus.

Essa é a única maneira de agradar a Deus - crendo em Jesus, dando a ele razão em tudo na nossa vida, aceitando seu amor e perdão provado na cruz, e crendo em sua ressurreição para nossa justificação diante de Deus. A Bíblia diz: "Sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam". A nossa carne (justiça própria) é inimiga de Deus e sempre será. Portanto, o único modo de agradar a Deus é dando-lhe razão em tudo sempre.

Deus não nos chamou para fazer, mas para sermos conformes à imagem de seu Filho Jesus; não fomos chamados para construir templos, mas para sermos o templo do Espírito Santo. Os crentes precisam se libertar dessa neurose de dar “frutos” para Deus a partir das atividades da igreja, seguindo a agenda criada pela liderança, como se Deus estivesse restrito ao sistema eclesiástico. Deus não é "evangélico". Ele é o Senhor de toda a Terra. A Igreja de Jesus não tem placa, CNPJ, endereço. A Igreja está em qualquer lugar onde o nome de Deus é crido e invocado - "O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito". "Por toda a terra se faz ouvir a sua voz".

A maior dificuldade do mundo evangélico é conviver com a liberdade. Quando uma pessoa se liberta daquela gaiola religiosa, geralmente ela fica com vertigem, sente tontura, perde por um tempo a noção da realidade. É como alguém que depois de anos preso não sabe mais conviver com a liberdade. Há presos que não querem mais nem sair da prisão, pois a cadeia lhe parece mais segura e familiar, visto que os amigos são todos prisioneiros.

Assim acontece com muitos crentes: se você disser que eles estão livres em Cristo para viverem plenamente a vida como ela é, sem culpa e sem nenhuma condenação, sem nenhuma dívida com Deus, sem terem que fazer por onde agradar o Altíssimo em troca de bênçãos, eles ficam sem fumo, porque aprenderam que têm de conquistar, exigir, e pagar o preço para serem bons crentes. Recebem a Cristo pela fé, mas querem viver pelo desempenho das boas obras. Isso não poderia dar em outra coisa senão em neurose, aquela permanente insatisfação com a vida cristã, como se Deus estivesse sempre chateado com a gente. Mas Deus não é assim!

Vamos acreditar para sempre no Evangelho que diz que somos de Deus, em Cristo Jesus, e que o mesmo se tornou para nós, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, para que toda glória seja do Senhor. Vamos jogar fora todos os nossos lucros, méritos, esforços para conquistar Deus, em troca da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, nosso Senhor; considerando tudo como lixo, para ganhar a Cristo e ser achados nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, de esforços, sacrifícios, senão a justiça que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé. O justo vive pela fé.

A graça de Deus anula nossa justiça, como na parábola dos trabalhadores: os que chegaram no fim ganharam o mesmo que os que trabalharam o dia todo. “Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça”. Quem não trabalha para ser aceito por Deus, mas aceita a justiça de Cristo por ela, pode se apresentar para receber o salário da Vida de graça.

Enfim, já somos aceitos por Deus em Cristo mediante a fé. Quando Deus falou de Jesus: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”, ele falava também de nós, porque morremos para a lei, e a nossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Nada podemos oferecer a Deus porque tudo é dele. Ninguém pode pagar nada pela sua própria redenção e nem remir a alma de ninguém, pois tal redenção seria caríssima, e cessaria toda tentativa para sempre. O único sacrifício que podemos oferecer a Deus é a gratidão. "Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo? Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor".

Antonio Francisco - Cuiabá, 16 de maio de 2013 – Voltar para Um novo caminho.

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