Velhice

Muitas pessoas pagariam qualquer valor pela eterna juventude, para parecerem sempre jovens. Com isso criou-se na sociedade a idéia de que a velhice é uma etapa ruim da vida que ninguém deseja chegar, como se fosse uma fase negativa da existência. É interessante considerar que o brasileiro está ficando mais velho; daqui a pouco teremos uma pátria de velhos. Justifica considerarmos o assunto em todos os níveis sociais. Precisamos aprender a olhar para a velhice.

“Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer; antes que se escureçam o sol, a lua e as estrelas do esplendor da tua vida, e tornem a vir as nuvens depois do aguaceiro; no dia em que tremerem os guardas da casa, os teus braços, e se curvarem os homens outrora fortes, as tuas pernas, e cessarem os teus moedores da boca, por já serem poucos, e se escurecerem os teus olhos nas janelas; e os teus lábios, quais portas da rua, se fecharem; no dia em que não puderes falar em alta voz, te levantares à voz das aves, e todas as harmonias, filhas da música, te diminuírem; como também quando temeres o que é alto, e te espantares no caminho, e te embranqueceres, como floresce a amendoeira, e o gafanhoto te for um peso, e te perecer o apetite; porque vais à casa eterna, e os pranteadores andem rodeando pela praça; antes que se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu. Vaidade de vaidade, diz o Pregador, tudo é vaidade” (Ec 12.1-8).

Envelhecer é uma arte que precisa ser aprendida. Ninguém é experiente em velhice, pois só se envelhece uma vez na vida. Vamos encarar a velhice com bons olhos, pois, ela é inevitável, o que justifica mudar conceitos negativos a respeito de um tempo tão especial na vida de qualquer ser humano. A fase final desta vida onde as forças diminuem e os limites se impõem em todos os sentidos, merece ser pensada com carinho, por crianças, jovens e pelos próprios idosos. Isso é uma questão de educação, cultura e entendimento espiritual.

A velhice é um tesouro riquíssimo de lembranças, experiências e sabedoria. Por isso, aceitar a velhice e se ajustar a ela é a melhor maneira de envelhecer saudável. Você já imaginou um país sem velhos? Seria um país sem história, sem memória, sem maturidade, sem tradições. É uma pena que os velhos sejam sacrificados de muitas maneiras em nossa sociedade, quando excluídos de um sistema de saúde que não tem a qualidade necessária, quando isolados sem direito ao convívio da família e até mesmo com as pessoas mais jovens.

A Bíblia mostra a importância que tinham os idosos nos tempos bíblicos. Eles eram fundamentais na conservação de uma sociedade. “Lembra-te dos dias da antiguidade, atenta para os anos de gerações e gerações; pergunta a teu pai, e ele te informará, aos teus anciãos, e eles to dirão” (Dt 32.7). Quando Deus mandou Moisés liderar a libertação do êxodo de seu povo que estava escravo no Egito, ele deveria reunir os velhos entre o povo, pois eram as pessoas mais preparadas. “Vai, ajunta os anciãos de Israel e dize-lhes: O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me apareceu, dizendo: Em verdade vos tenho visitado e visto o que vos tem sido feito no Egito” (Êx 3.16). Moisés atendeu ao que Deus lhe disse e ajuntou os anciãos. “Então, se foram Moisés e Arão e ajuntaram todos os anciãos dos filhos de Israel” (Êx 4.29).

A velhice oferece privilégios e experiências não encontradas em nenhuma outra fase da vida. “Coroa dos velhos são os filhos dos filhos; e a glória dos filhos são os pais” (Pv 17.6). “O ornato dos jovens é a sua força, e a beleza dos velhos, as suas cãs” (Pv 20.29). Paulo orientou ao jovem pastor Timóteo que tivesse um tratamento respeitoso com os mais velhos. “Não repreendas ao homem idoso; antes, exorta-o como a pai; aos moços, como a irmãos” (1Tm 5.1). Por outro lado, é importante dizer que a velhice por si mesma não se justifica, pois os homens maus também envelhecem. Os idosos devem ser respeitáveis. “Quanto aos homens idosos, que sejam temperantes, respeitáveis, sensatos, sadios na fé, no amor e na constância” (Tt 2.2).

Estou escrevendo sobre a velhice por várias razões que serão apresentadas ao longo dessa série de artigos, mas, uma delas é que estou com cinquenta anos e já sinto no corpo a diferença de quem não é mais jovem. Envelhecer realmente é uma arte que precisa ser treinada para que não vivamos nessa altura da vida com melindres e sofrimentos desnecessários além daqueles que com certeza são inevitáveis.

É uma pena que tenhamos uma geração de velhos “adolescentes”, ou seja, pessoas de mais idade se comportando como se fossem jovenzinhos na aparência das roupas, cabelos, adornos e até na produtividade do trabalho. Conheço pessoas com mais de quarenta anos que se comportam como meninos. Elas parecem estar sempre brincando, ou quando não estão assim, parecem zangadas; são meninos que não cresceram emocionalmente e por isso vivem como adolescentes.

A valorização da pessoa idosa faz bem a todos, pois cada dia caminhamos para a classe dos que chegaram à “melhor idade”. O processo do envelhecimento deve ser trabalhado gradualmente. Isso me faz lembrar o que me disse certo dia um cunhado meu. Ele ouviu de alguém que aos cinquenta anos você deve se cuidar como se tivesse sessenta; com sessenta como se tivesse setenta, e assim por diante. Isso tem a sua relatividade, mas não deixa de ter a sua importância no processo.

Não tenho como evitar a velhice, mas a qualidade de vida nesse período depende de mim. Como já disse antes, ninguém é perito na arte de envelhecer, pois só passamos por ela uma vez na vida; mas o bom nisso tudo é que podemos nos preparar para tanto, e cada pessoa tem de fazer o seu próprio caminho do seu próprio jeito na arte de envelhecer; ninguém envelhece igual a ninguém. Velhice é coisa muito pessoal, cada um sabe onde dói, onde puxa, onde estica, onde trava; cada velho tem o seu próprio gemido, seu próprio jeitinho de rir, de segurar, de andar, de comer, e de dormir. Mas, existem coisas que são comuns a todos, como, aceitar a realidade da velhice, o deixar de lado o que não pode ser mais carregado e os ajustes próprios para se viver quando a velhice chega; nessa idade ninguém deve se preocupar em produzir, mas, não se pode negar que na velhice se aprende coisas novas que enriquecem a vida, como, pintar, tricotar e escrever, por exemplo.

Antonio Francisco - Cuiabá, 23 de agosto de 2012 - Voltar para Velhice.

Comentários

Anônimo disse…
Muito bom o artigo. Confesso me preocupar com essa fase da velhice. Preciso me preparar. Que bom que não tenho um pai infantil, mas maduro. Um beijo papai.
Renira.