O fermento dos fariseus e dos saduceus

Acredita-se que a seita dos fariseus tenha surgido por volta do 3º século antes Cristo, nos dias que antecederam as guerras dos Macabeus. Os fariseus surgiram com o objetivo de preservar a integridade nacional e conformar-se rigorosamente à lei mosaica. Os saduceus surgiram na mesma época dos fariseus. Defendiam os costumes gregos, eram céticos com mentalidade mundana, influentes como líderes religiosos, e até certo ponto dominavam o sinédrio.

A palavra fariseu quer dizer “separado”, tal era o exclusivismo que caracterizava aquela seita judaica. Eles criticavam Jesus porque comia com publicanos e meretrizes, pessoas marginalizadas pela religião. Os fariseus faziam parte de um grupo de centro-esquerda que mantinha uma relação tensa com o poder do templo e com o poder romano. Os fariseus tinham muito zelo pela Lei de Moisés, sendo literalistas e moralistas. Defendiam ritos e regras minuciosos como expressão religiosa na tentativa de agradar a Deus com seus esforços e méritos. Não aceitavam a graciosidade de Jesus em libertar os oprimidos, ao ponto de dizerem que ele expelia demônios pelo maioral dos demônios. Criticavam Jesus porque seus discípulos faziam o que não era lícito fazer em dia de sábado de acordo com a interpretação que davam à guarda desse dia conforme a lei de Moisés. Provocavam Jesus com perguntas cretinas e se sentiam ofendidos pela palavra que muitas vezes era proferia contra eles, a ponto de quererem matar Jesus. Viviam de máscaras e eram como sepulcros caiados, belos por fora e imundos por dentro. Assim eram os fariseus, cheios de religiosidade e vazios de amor.

Os saduceus geralmente procediam da classe sacerdotal e formavam um partido de centro-direita, aliado a Herodes e aos romanos. Os saduceus eram eram religiosos e ao mesmo tempo céticos, defensores do sistema que dominava o povo iludido pelos ensinos distorcidos que passavam juntamente com os fariseus. Os saduceus declaravam não haver ressurreição, nem anjo, nem espírito; ao passo que os fariseus admitiam todas essas coisas. Com isso fica mais fácil perceber o perfil de cada grupo, ainda que se unissem nos interesses comuns. Os fariseus eram zelosos das tradições judaicas, eram legalistas quanto à interpretação da Lei, e criam na vida transcendente; enquanto os saduceus eram defensores de práticas gregas entre o povo, eram materialistas, dominadores, e não criam no mundo espiritual. Temos que ter cuidado para não ficar mascarados como os fariseus, nem desapaixonados por Deus como os saduceus.

Jesus foi duro com esses grupos. Várias vezes ele lhes disse: “Ai de vós escribas e fariseus”. Eles não assumiam a vida com Deus e impediam que pessoas que estavam entrando no reino dos céus entrassem. Eles exploravam as casas das viúvas e se justificavam fazendo longas orações; por isso, haveriam de sofrer juízo muito mais severo. Eles faziam missões transculturais para defenderem o nome de suas instituições e conseguirem novos adeptos, mas isso só tornava aquelas pessoas filhas do inferno duas vezes mais que eles, pois eram guias cegos e insensatos. Foi com esse tipo de gente que Jesus disse que devemos ter cuidado, porque eles parecem ser do bem e de Deus mas não são. O ensino deles corrompe, faz mal. A sutileza do que dizem e como dizem é como fermento que penetra e faz estragos inimagináveis falando em nome de Deus. O zelo legalista e hipócrita deles deles parece muito com o que vemos hoje no meio religioso, quando multidões vivem debaixo de um sistema que tem aparência de piedade mas sem nenhum poder contra o que de fato Deus reprova.

Jesus os reprovou chamando-os de hipócritas porque davam o dízimo de tudo que produziam, mas negligenciavam os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé. Como guias cegos eles coavam o mosquito e engoliam o camelo, limpavam o exterior do copo e do prato, mas estes, por dentro, estavam cheios de coisas reprováveis. Eles deveriam primeiro limpar o interior do copo, para depois limparem o exterior, disse Jesus. Eles viviam das exterioridades, queriam apenas aparentar o que não eram de fato. Jesus os comparou com sepulcros caiados que por fora se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia! Assim, exteriormente eles pareciam justos aos homens, mas, por dentro, estavam cheios de hipocrisia e iniquidade. Jesus os chamou de serpentes, raça de víboras, pessoas que estavam caminhando para a condenação do inferno. O problema é que essa gente consegue influenciar multidões com "suas doutrinas" distorcidas, fazendo com que pessoas vivam para Deus como se vivessem para um sistema ou para um caudilho que em nada parece com Deus. Isso gera escravidão espiritual sem a liberdade que existe em Jesus.

Certa ocasião Jesus disse aos seus discípulos: “Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus”. Eles pensaram que Jesus falara daquele modo porque eles não haviam levado pão para aquela viagem. Mas ele falava da doutrina dos fariseus e dos saduceus que contaminavam as multidões como o fermento influencia a massa. Os fariseus e saduceus ensinavam ao povo sobre Deus, mas não tinham a aprovação de Jesus, pois usavam as Escrituras apenas para defenderem as doutrinas de homens. O povo percebia a diferença entre eles e Jesus, porque Jesus falava com autoridade, enquanto eles apenas transmitiam suas ideias usando o nome de Deus. Era tudo vão, porque ensinavam apenas doutrinas.

Noutro lugar Jesus falou diante de miríades de pessoas, mas dirigiu a palavra, antes de tudo, aos seus discípulos: “Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia”. O fingimento religioso daquelas pessoas recebeu dura reprovação de Jesus, porque enganavam o povo com palavras, aparências indumentárias, e rituais que em nada edificava o povo. Eles se assentaram na cadeira de Moisés como autoridades sobre o povo, atando fardos pesados e difíceis de carregar, pondo sobre os ombros do povo; entretanto, eles mesmos nem com o dedo queriam movê-los. Faziam tudo com o fim de serem vistos dos homens. Gostavam de destaques nos banquetes e das primeiras cadeiras nas reuniões religiosas; amavam as saudações públicas e se enchiam de vaidade por serem chamados de mestres pelos homens. Não é difícil perceber porque Jesus foi tão severo com os fariseus e saduceus. Chegou a chamá-los de filhos do diabo, pelo modo maléfico, sutil, perverso, e enganador em que viviam.

O ambiente das igrejas evangélicas em nossos dias tem o mesmo perfil da prática dos escribas e fariseus dos dias de Jesus. As igrejas há muito tempo perderam a simplicidade do Evangelho e anunciam outro Jesus. Os ensinos predominantes nos púlpitos cristãos estão impregnados de doutrinas de homens. Ninguém admite, mas, os estatutos das igrejas têm na prática a mesma autoridade da Bíblia; em muitos casos são mais aplicados que os valores bíblicos. Os conselhos das igrejas formados por líderes com zelo sem entendimentos e céticos quanto às doutrinas do Evangelho, se sentem no direito de governar a vida dos membros não lhes permitindo exercer a liberdade de consciência e expressar a fé como lhes é conveniente. As igrejas estão cheias de crendices, fetiches, mandingas e tradições fúteis. Se os crentes começassem a ler Bíblia deixando de lado tudo o que não condiz com o que encontram nos Evangelhos e por todo o Novo Testamento, haveria uma revolução espiritual dentro das igrejas. Mas, até que isso aconteça, as multidões de crentes continuarão inchadas com o fermento nocivo dos fariseus e escribas modernos. Deus nos ajude.

Antonio Francisco - Cuiabá, 20 de agosto de 2012 - Voltar para Como ser discípulo de Jesus.

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