Por que a liberdade incomoda?

Fomos criados para a liberdade, mas ela sempre nos foi um desafio, desde Adão e Eva. Deus provou a obediência de Adão com a liberdade quando lhe disse: “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Deus não protegeu a árvore, deixou-a disponível, exatamente para testar Adão, e ele abusou da liberdade recebida. Desde então, temos dificuldades com a liberdade.

A Bíblia diz: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão” (Gl 5.1). Esta é uma afirmação categórica maravilhosa, o fato de Cristo ter nos libertado para vivermos livres. O contexto destas palavras se refere à libertação do jugo da Lei mosaica. Aqueles que contavam com a guarda das leis judaicas para serem aceitos por Deus, não podiam contar com a salvação oferecida de graça por Cristo, e teriam que cumprir toda a lei, o que sempre foi impossível para qualquer pessoa, exceto Jesus. Querer ser aceito por Deus mediante a prática da lei é rejeitar a graça de Cristo.

A verdade é que não dependemos de obras da lei para sermos aceitos e perdoados por Deus de todos os nossos pecados, “porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém da fé”. Essa fé não é estéril, pois ela atua pelo amor por meio da ação do Espírito Santo que em nós habita. O Espírito Santo nos regenera e nos torna novas criaturas pela fé em Cristo e nos capacita a andar na verdade conforme o Evangelho. De modo que o crente vive pela fé em Cristo, “o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”. Deus nos aceita em Cristo e não em nossas justiças, que são como trapos da imundícia aos olhos daquele que é todo Santo, “porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”. Quando adquirimos essa consciência, entendemos que os ritos judaicos ou quaisquer outras expressões que requerem obediência para se agradar a Deus, não têm efeito algum.

A Bíblia não apenas afirma que “para a liberdade foi que Cristo nos libertou”, mas também nos ordena: “Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão”. Assim, podemos desfrutar da liberdade de consciência que Cristo nos deu sem ter que ficar como um boi arcado sob um pesado jugo. Depois de libertar Israel da escravidão egípcia, Deus disse ao povo: “Eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito, para que não fôsseis seus escravos; quebrei os timões do vosso jugo e vos fiz andar eretos” (Lv 26.13). Multidões vivem nas igrejas evangélicas sobrecarregadas com jugos religiosos que oprimem o povo sem nada oferecer que lhe proporcione a liberdade gratuita que Cristo dá mediante a fé. Jesus quer nos fazer andar eretos no espírito sem os timões da religiosidade que ensina os crentes a viver de desempenho conforme as regras da igreja. Muitos vivem enganados achando que viver para Deus é seguir a programação de sua igreja, como se sua organização “evangélica” fosse uma espécie de franquia celestial na terra. Não se iluda com isso.

O evangelho nos chama para a obediência à verdade conforme Jesus e não pela persuasão de homens que vivem da fé dos incautos adormecidos pelo tradicionalismo religioso e que por isso mesmo se submetem a líderes enganadores que defendem suas “empresas eclesiásticas” sobrecarregando as pessoas de atividades e obrigações que lhes fazem acreditar que somente daquele modo é que se agrada a Deus, quando de fato não é assim que aprendemos em Cristo. O engano é como o fermento que leveda toda a massa. Muitos dos que se declaram evangélicos hoje em dia já perderam há muito tempo a simplicidade e pureza devidas a Cristo, pois pregam outro Jesus, aceitam espírito diferente do Espírito Santo, e recebem um evangelho diferente. A tolerância ao engano tem sido comum no meio “evangélico” que vive de desempenho e não de fé, que empresaria a igreja, que idolatra suas instituições e que não sabe o que é amar. A "igreja evangélica" não conhece a liberdade em Cristo.

Enquanto a pessoa não adquire a consciência da liberdade em Cristo pela fé, ela vive com sua alma suada na tentativa de agradar a Deus com esforços fúteis e atos de justiça imundos que nada podem fazer para tornar alguém aceito por Deus. Isso implica em muitas maneiras de se incomodar com a liberdade. O que agrada a Deus em mim é a fé, como está escrito: "Sem fé é impossível agradar a Deus". Agora, querer agradar a Deus com minhas obras e méritos é uma tolice, pois nada podemos fazer para tornar Deus nosso devedor. Tudo que temos e recebemos dele é de graça. Então, livre-se de uma vez por todas da escravidão religiosa.

A liberdade incomoda por causa do pecado. Jesus disse: “todo o que comete pecado é escravo do pecado”. O pecado escraviza e não permite que ninguém viva com liberdade de consciência, pois a culpa dos males cometidos não deixa que ninguém viva em paz, até que cada um de nós aprenda a dar razão a Deus e confie em Jesus como seu justificador diante de Deus. É na cruz de Cristo que o crente se gloria e não em suas obras ou em sua religião (igreja). O salmista Davi disse: "Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui iniquidade e em cujo espírito não há dolo" (Sl 32.1-2). Uma pessoa perdoada é uma pessoa livre e feliz.

A liberdade incomoda por causa da religião. Todos aqueles que se aliam a qualquer sistema religioso (igreja) e dele dependem para viver para Deus, não conhecem a liberdade oferecida de graça pelo Evangelho. Ninguém deve viver debaixo de qualquer jugo religioso que exija fidelidade como modo de agradar a Deus, mesmo que tal sistema use a Bíblia e fale o nome de Jesus. Somente onde está o Espírito do Senhor é que há liberdade. A desgraça do Cristianismo foi sistematizar a fé e tentar controlar a relação das pessoas com Deus. Isso é puro paganismo e não tem nada a ver com o que nos diz o Evangelho de Jesus. Por isso, eu digo: Rompa com todo sistema religioso que tenta controlar sua liberdade em Cristo, que ficando ditando diretrizes em como se andar com Deus. Os que são de Deus são guiados pelo Espírito de Deus, têm a unção da liberdade, e não têm necessidade de cabrestos religiosos.

A liberdade incomoda por causa do moralismo. A sociedade se ajusta para viver na conveniência de seus próprios interesses, criando normas que ela mesma estabelece para o seu próprio bem em detrimento de terceiros que não se ajustem ao que foi determinado por aqueles que se autodefinem como exemplos dos demais. O moralismo encontra nas igrejas o seu ambiente mais propício, e, como o moralismo padroniza o modo de ser da maioria, aqueles que assim vivem desconhecem a liberdade devida àqueles que andam guiados pelo Espírito Santo conforme o Evangelho de Cristo. Jesus nos ensina uma contracultura que não se conforma com este mundo mas que agrada a Deus e faz bem aos que assim procedem.

Liberdade é uma condição adquirida pela fé em Cristo em se deixar guiar pelo Espírito de Deus que nos faz viver na graça e na verdade, usufruindo da vida abundante que Jesus oferece a todo aquele que nele crê. A verdadeira liberdade é vivida pela fé entre os limites da Lei e da libertinagem. A liberdade cristã também incomoda por ser vivida em um caminho estreito que deixa de lado tudo que oprime e devassa. Deus nos criou para a liberdade.

Antonio Francisco - Cuiabá, 22 de maio de 2012 – Voltar para Perguntas e Respostas.

Comentários

Anônimo disse…
"Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres."
(João 8:36)
Que o povo tenha conscientização!