Do tédio ao amor ágape

Qual é o oposto do amor? Facilmente se diz que é o ódio. Eu diria que é o tédio. Uma igreja amorosa jamais será tediosa ou monótona, porque o amor é criativo, e onde ele está presente a imaginação se aflora em expressões cada vez mais abundantes e vivificantes. Muitas pessoas não concordam que o amor está ausente na igreja porque nos adaptamos ao convívio mesmo quando não existe amor.

A igreja de Éfeso ilustra o que é a falta de amor mesmo quando a igreja é dinâmica em suas atividades: “Ao anjo da igreja em Éfeso escreve: Estas coisas diz aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro: Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer. Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas” (Ap 2.1-5). Aquela igreja era laboriosa na obra de Deus, perseverante, zelosa da conduta e da liderança, mas era uma igreja sem amor. Você pode imaginar como era o clima no relacionamento entre eles.

Veja que o texto bíblico diz: “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras”. É isso o que acontece – as pessoas se convertem desejosas de viver para Deus, crêem e querem seguir os passos de Jesus, mas logo são contaminadas pelos tediosos que contaminam os que receberam o amor de Deus. E não demora muito para que essas pessoas virem críticas do pastor, dos cultos e de outras pessoas. Desse modo o ambiente tedioso toma conta de igreja e a politicagem se espalha para todos os lados.

É preciso voltar ao primeiro amor, dando meia-volta e retornando ao início de tudo. Muitas vezes esse retorno implica em sair de onde se está para o convívio de outras pessoas, porque, mesmo querendo mudar você não consegue avançar quando a convivência tediosa é a marca do lugar onde se vive. É melhor mudar de lugar do que ser movido de lugar pelo Senhor juntamente com os outros que não mudam.

“Deus é amor” (1Jo 4.8). O amor não é apenas um atributo de Deus, mas a própria natureza de Deus, de tal maneira que permanecer no amor é permanecer em Deus, como está escrito: “E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele” (1Jo 4.16). Devemos ter cuidado para não aplicar a Deus o que entendemos por amor, para não corremos o risco de encontrar em Deus falta de amor, o que seria uma blasfêmia. Uma demonstração de que erramos quando pensamos no amor de Deus com nossas categorias é quando alguém diz: “Se eu fosse Deus, não deixaria que uma criancinha morresse de câncer”, porque falando desse modo estamos dizendo que amamos mais que Deus. Não sabemos como é ser Deus e não sabemos o que é o amor até que o amor de Deus seja derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado (Rm 5.5). Nós só podemos amar porque Deus nos amou primeiro (1Jo 4.19). Então, uma vez conhecendo o amor de Deus, podemos amar.

O amor de Deus consiste em dar-se a si mesmo a nós. Esse é o amor ágape – o amor que ama porque quer amar e não porque o outro mereça ser amado. Esse não é o amor “eros”, o amor interesseiro em prazer e posses para satisfazer os próprios desejos egoístas. O amor ágape parte de quem ama, enquanto o amor eros é inspirado no objeto do amor que motiva quem ama por sentimentos. O amor eros começa nos sentimentos, muda para os pensamentos, para só então chegar às ações de amor. Enquanto que o amor ágape começa nos pensamentos, na decisão de amar, se concretiza em ações de amor, e só depois dá lugar para os sentimentos. O problema do tédio na igreja é que a maioria das pessoas só consegue amar com o amor eros, ou seja, se sentirem amor por alguém, caso contrário não demonstram amor, achando com isso que estão sendo sinceras e autênticas.

O capítulo 13 de 1 Coríntios descreve de maneira prática e maravilhosa o que é o amor. Ele diz: “O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba...”. Christian A. Schwarz em seu livro “Aprendendo a Amar” define o amor com estas palavras: “Amor é uma ação consciente, criativa e incondicional de me voltar para uma pessoa com o propósito de, em nome de Jesus, ajudá-la ou causar-lhe uma alegria”. Esse conceito de amor é interessante porque mostra que sem ação não há amor, como diz a Bíblia: “Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade” (1Jo 3.18). Amo quando decido conscientemente amar e isso acontece valorizando as pessoas sem estabelecer condições para amar com o amor de Jesus de forma concentrada e objetiva. Esse amor incondicional gera alegria na pessoa amada.

Termino com um exemplo prático desse amor incondicional: Um jornalista observava o trabalho de Madre Teresa nas ruas de Calcutá, e lhe disse: “Eu não faria este trabalho nem por um salário de mil dólares por dia”. Madre Teresa deu uma resposta simples, mas grandiosa: “Eu também não”. Isto é amor incondicional. Nesse amor não há tédio.

Antonio Francisco - Cuiabá, 13 de março de 2012 – Voltar para Um novo caminho.

Comentários