Filho do inferno duas vezes mais

Você já ouviu alguém dizer que aqueles que morreram estão melhores do que nós, pois estão no céu. Ninguém quer ouvir falar de inferno, muito menos ir para lá. Mas, será que todos os nossos queridos que já morreram estão no céu? Existe mesmo o inferno ou ele é apenas parte do imaginário religioso? O que a Bíblia diz sobre o inferno e quem o criou? O que fazer para ir para esse lugar terrível?

Em geral, todos nós nos julgamos pessoas boas ou pelo menos não tão más como algumas que conhecemos ou assistimos nos noticiários policiais. Somos capazes de contar vantagens sobre nós mesmos e evitamos tornar conhecidos alguns de nossos erros já cometidos ou tornar públicas algumas falhas de caráter. Nosso senso de justiça está à flor da pele, prova disso é quando sabemos de um crime bárbaro; a intenção é fazer justiça com as próprias mãos ou que tal pessoa mofe na ceia, pois jamais seríamos capazes de tamanhas atrocidades. De fato nos achamos justos e bons. Expressões como: “Você sabe com quem está falando?”, “você nunca me viu metido em confusão”, “nunca fiz mal para ninguém”, “não devo nada a ninguém”, “meu nome nunca foi parar no Serasa ou no SPC”, “tenho ajudado muita gente”, são algumas de inúmeras demonstrações de bondade e justiça própria entre nós.

É muito bom ter a ficha limpa e um bom nome na praça, tratar bem familiares, amigos, estranhos na rua, ajudar os necessitados e ser dado às boas obras. Mas, o quanto isso diz de fato sobre o que somos aos olhos de Deus? Será que nossa integridade é apenas uma coisa epidérmica face ao que somos realmente no mais profundo da nossa alma? Até que ponto você e eu temos encarado a verdade do nosso ser, admitindo e assumindo o mal que habita em nós? Quem reconhece que sua justiça é como trapo da imundícia aos olhos de Deus, e que não há justo, nem um sequer? O que entendemos da vida em geral e da eternidade do ponto de vista de Deus é nulo, porque nossas melhores intenções e o nosso mais profundo conhecimento sobre qualquer coisa é deformado. De fato ninguém quer nada com Deus mesmo que ame sua religião, vivemos extraviados e mais cedo ou mais tarde teremos que concordar com nossa inutilidade. Somos capazes de matar com a língua e de correr para derramar sangue, destruição e miséria fazem parte de nosso histórico e não conhecemos a paz. Não sabemos o que é temer a Deus, daí nossa facilidade de aprontar e nos justificar em seguida.

Se você já leu até aqui, parabéns, pois acredito que muitos não suportam o que estou escrevendo. A verdade é que nossa situação é pior do que se possa descrever num parágrafo. Nascemos em pecado e vivemos desgarrados como ovelhas perdidas, mortos em nossos próprios pecados. O salário de nossos pecados é a morte em todas as suas dimensões – espiritual, física, e eterna. Essa situação degradante nos conduz para um lugar horrível; algo eternamente além da nossa imaginação – O INFERNO, lugar de castigo eterno. A Bíblia usa expressões como, “fornalha acesa” onde haverá choro e ranger de dentes, e “lago de fogo” para onde as pessoas serão lançadas. Isso não fundamenta a ideia do aniquilacionismo como querem alguns, pelo contrário, o inferno é um lugar de eterno sofrimento consciente.

Multidões vivem cauterizadas mesmo tendo informações sobre o horror do inferno. Mas, a verdade inegável é que estamos ou já estivemos tão perto do inferno como do ambiente onde estamos neste momento. A nossa condição espiritual nos coloca às portas do inferno sem nenhuma injustiça da parte de Deus, pois naturalmente somos filhos da ira de Deus e mais que isso, filhos do diabo (todos nós, indistintamente). Nossa natureza pecaminosa nos compara a uma raça de víboras numa existência sem esperança e sem Deus no mundo. O perigo de cair a qualquer momento no abismo do inferno é muito real, é como se estivéssemos num lugar escorregadio, isto porque a ira de Deus está sobre todo aquele que se rebela contra seu Filho Jesus, o único que pode nos livrar do caos eterno. Deus aborrece a todos que praticam o mal, e quem não os pratica? As nossas melhores intenções e nossas melhores ações estão contaminadas pelo pecado e nos deixam debaixo da maldição divina.

Deus preparou o inferno não apenas para o diabo e seus anjos, mas também para pessoas como você e eu. Nosso único direito diante da justiça de Deus é ficar calado e culpado, pois Deus é puro no seu falar e no seu julgar, ele é verdadeiro, nós, mentirosos. Até parece que seria melhor falar do amor de Deus, mas, se não acreditarmos nas verdades acerca de nossa natureza pecaminosa, das consequências eternas do pecado, e do próprio inferno, não saberemos aceitar e valorizar o amor de Deus por nós. Também não teremos capacidade de apreciar as maravilhas naturais que Deus nos dá, nem suas bênçãos abundantes em nosso cotidiano. Como amar o próximo, perdoar suas maldades e se condoer do necessitado, se não aceitarmos que nossa maldade inerente pelo fato de sermos pecadores nos deixa na condição de condenados diante de Deus, mas que seu amor por nós oferece perdão para tudo isso?

Que cada um de nós é filho do inferno por causa do pecado, não há como negar. Mas, o que torna essa situação ainda pior e foi o que me motivou a escrever o que estou escrevendo, é saber que a religião pode tornar uma pessoa duas vezes filha do inferno. Isso mesmo. Onde se fala de Deus, onde a fé é sistematizada, os dogmas são estabelecidos, a moral é posta como coluna, os ritos são seguidos devidamente, a Bíblia é estudada, sim, é num contexto assim que pessoas são preparadas e se tornam os piores habitantes do inferno. Jesus disse para aqueles que em seus dias representavam a pureza da religião, os controladores do sistema, os líderes do povo, aqueles que influenciavam as massas, os formadores de opinião sagrada: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!” (Mt 23.15).

Essas palavras de Jesus merecem toda a nossa atenção. Elas mostram a situação condenável daqueles que hipocritamente conduzem os que creem; ainda mais porque os que ensinam acerca da fé serão julgados de modo mais severo. É próprio dos religiosos se esforçarem para conseguirem adeptos, são capazes de atravessar oceanos com essa finalidade, achando com isso estarem cumprindo uma missão divina. Esse empenho só faz sentido para eles se alcançarem pessoas que aumente o número de seu rebanho, mesmo que seja uma pessoa apenas. Mas, tais prosélitos pioram ao invés de mudarem para melhor. Eles aderem com a intenção de viverem para Deus fazendo sua vontade, mas são enganadas. E uma vez que isso acontece, elas se tornam manipuladas pelos homens e engodadas pelo diabo, mesmo que em tudo isso exerçam uma fé sincera e prática, porque a religião engana e cega.

Qualquer credo, seita, ou religião pode tornar uma pessoa duas vezes mais filha do inferno. Não importa a intenção, nem as palavras proferidas; se a pessoa se converte a algo que se chama Deus, mas na verdade não lhe oferece o Deus Criador do céu e da terra revelado em Jesus Cristo que morreu na cruz e ressuscitou para nos reconciliar com Deus eternamente de graça mediante a fé, essa religião ou igreja é do diabo e está empurrando as pessoas para o inferno eterno. Infelizmente grande parte da “igreja” tem se prestado ao serviço infernal de afastar as pessoas para mais longe de Deus. A história eclesiástica nos mostra essa realidade sombria com o endeusamento do sistema e ênfase no clero, na liderança e nos nomes identificadores das diversas organizações e denominações religiosas. A igreja tem se apresentado como uma gaiola protetora, uma espécie de seguradora para a vida eterna, e isso tem infernizado multidões.

Com raras exceções, a religião evangélica tem enganado as pessoas oferecendo outro evangelho que não é o Evangelho de Jesus. Esse desvio começou na própria igreja primitiva. Um exemplo disso foi o que aconteceu com as igrejas da Galácia (leia a carta aos Gálatas no Novo Testamento), que tendo recebido o puro evangelho da graça de Deus mediante a fé em Jesus, depois passaram a viver do desempenho das boas obras e dos méritos próprios. Esse é o mal da “igreja evangélica” em nossos dias, contabilizar os que são e os que não são de Deus conforme o seu censo interno. O “Rol de Membros” das igrejas é o que determina se alguém está escrito no “livro da vida do cordeiro”. Essa estupidez não condiz com o espírito do Evangelho. Pouca gente conhece a nova vida de perdão e graça oferecida por Jesus; o que muitos conhecem é um sistema doutrinário frio, e controlador da fé ingênua do povo.

Conforme a “igreja evangélica”, os de Deus são aqueles que pertencem aos arraiais “evangélicos”. Ninguém diz, mas o que todos creem mesmo é que fora da “igreja” não há salvação. Quem não for membro da agremiação, quem não estiver enquadrado aos ditames do clube religioso, não faz parte da igreja, quando muito pode ser um congregado, mas não participa da “comunhão”, não pode ser batizado, não pode participar da Ceia do Senhor e não pode ter nenhuma participação direta nas atividades da “igreja”, mesmo que a pessoa confesse Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador pessoal. Geralmente essas pessoas “rejeitadas” entre os “membros qualificados” não são casadas civilmente, têm algum vício com bebida ou cigarro, têm uma aparência não condizente com o gueto, e assim por diante. Mas, depois que uma pessoa se ajusta ao sistema eclesiástico, ela é considerada cidadã do céu, não importa o que ela creia de fato nem como ela viva; desde que os controladores da coisa não descubram, ela está dentro dos conformes, principalmente se ela for assídua às atividades do grupo e contribuir fielmente com dízimos e ofertas. O pior engano é o que acontece em nome de Deus.

Quando um “membro fiel” deixa de participar da “igreja” por algum motivo, ele é considerado um desviado da verdade e já não recebe a atenção nem o apreço dos membros “fiéis”. Mesmo que tal pessoa esteja bem espiritualmente ela não é mais considerada a mesma pessoa, pois o amor entre os "evangélicos" é um amor moral, interesseiro e condicionante. É assim que funciona essa coisa chamada “igreja evangélica”. Se você quiser escapar do inferno de fogo e ir para o céu, você deve pertencer a uma “igreja evangélica” e se adequar aos estatutos e regimentos da instituição, caso contrário, você é um pagão perdido caminhando para o lago de fogo. Isso é o que eles pensam, mas não é assim que a Bíblia diz. Ainda que neguem o que estou expressando aqui, é assim mesmo que funciona. Essa vida religiosa é um engodo diabólico. É por isso que Jesus disse que pessoas que assim vivem se tornam duas vezes mais filhas do inferno.

Mas, a boa notícia que o Evangelho nos dá, é que podemos deixar de ser filhos do inferno, fora ou dentro de uma “igreja evangélica”. Nossa situação de condenados pela justiça de Deus já foi resolvida há mais de dois mil anos, quando Jesus, o Filho de Deus se encarnou, nasceu de Maria por obra do Espírito Santo, viveu entre nós, morreu na cruz por nossos pecados e ressuscitou para a nossa eterna justificação. Nenhuma condenação há para os estão em Cristo Jesus. Você e eu podemos nos tornar herdeiros de Deus mediante a fé em Jesus Cristo. Se confessarmos os nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar e nos purificar de toda injustiça. Ele apaga todos os nossos pecados e deles não se lembra jamais. Você não precisa fazer parte de nenhum sistema religioso para ir para o céu ou para escapar do inferno. Apenas creia na mensagem do Evangelho, descanse no amor de Deus e viva na dependência do Espírito Santo. Congregar-se com outros não é uma condição para ser cristão, mas uma expressão dessa fé simples que nos envolve e nos capacita a amar a Deus e a todos como a nós mesmos.

Antonio Francisco - Cuiabá, 25 de janeiro de 2012 – Voltar para Um novo caminho.

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