Confiando no Deus surpreendente

Deveríamos ser gratos pelas surpresas diárias que o Senhor nos faz. Ninguém pode garantir que seus planos serão executados, mas o Deus surpreendente tem o melhor para nós. Quem já aprendeu a viver assim, agradece pelo seu passado, está satisfeito com o presente, e vive preparado para o futuro. Não temos o que perguntar quando aceitamos a vida como a resposta de Deus para o cotidiano.

Todos nós somos excelentes teólogos na teoria. Concordamos que Deus nos sonda e nos conhece em tudo o que fazemos e pensamos. Aceitamos que Deus sabe quando nos assentamos, nos levantamos, andamos, deitamos, e tudo o mais. Antes mesmo de falarmos ele já sabe o que vamos dizer. Deus nos envolve em sua presença como os peixes no mar e como as aves no ar. Esse conhecimento é maravilhoso: é sobremodo elevado para nossa compreensão. Em qualquer lugar, horário, ou circunstância, estamos na presença de Deus; noite e dia são a mesma coisa para ele. Deus nos criou de um modo admirável; ele olhava para nós quando ainda éramos uma substância informe, quando ainda nem parecíamos gente no ventre de nossa mãe, e determinou todos os dias da nossa vida, quando nem um deles havia ainda. Tudo isso é verdade e assinamos embaixo, mas, o modo como vivemos não corresponde com a confissão que fazemos.

A maioria de nós vive como se Deus não soubesse do que nos acontece. É como se ele desconhecesse ou ignorasse nossos movimentos, nossas dores, e nossas necessidades mais básicas. Nosso comportamento mostra que na verdade cremos mesmo é que Deus está ausente e bem distante da gente. Ele está no céu e nós ficamos penando aqui na terra. Quando as coisas ficam muito difíceis, nós clamamos e às vezes ele nos atende, outras vezes continuamos sozinhos tentando resolver com nossas próprias forças os nossos problemas. Você pode achar estranho esse meu modo de falar, mas é assim que no fundo a maioria pensa. Por causa disso é que vivemos ansiosos, estressados, nervosos, irritados, briguentos, e doentes, mesmo afirmando que cremos e confiamos em Deus. Alguma coisa precisa mudar nesse nosso modo de crer.

Precisamos parar de tratar Deus como achamos que ele deve ser. Deus nos criou à sua imagem e semelhança, mas invertemos as coisas e criamos em nosso imaginário um deus à nossa semelhança. Frequentemente encontramos pessoas questionando Deus, dizendo: “Se Deus existe, por que ele deixa o mundo ser como é?” “Por que crianças indefesas morrem ainda no ventre materno, outras morrem logo que nascem, ou morrem cancerosas ou em terríveis acidentes?” “Onde está Deus diante das guerras, da fome, das epidemias, das catástrofes naturais e em misérias crescentes ao redor do mundo?” Essas são algumas das perguntas que muitos fazem por terem uma imagem errada de Deus. Esse tipo de questionamento mostra a idéia de um deus à nossa imagem. Agindo assim até parece que somos mais justos que Deus.

A primeira coisa que precisa mudar em nós é o conceito de Deus, se é que alguém pode conceituar Deus. Aliás, esse é um problema comum entre os que crêem - teologizar. A teologia tem produzido milhares de estudantes de Deus que cada vez mais se afastam de Deus. São doutores em divindade que só conhecem a Deus no papel, nos compêndios teológicos, e nas enciclopédias. Sistematizar a fé não é a melhor maneira de conhecer a Deus. Não podemos categorizar os modos como Deus age e nem explicar tudo o que acontece e como acontece. A Bíblia diz muito acerca de Deus, a natureza também, a nossa mente criada à imagem de Deus também pode entender muito acerca de Deus, mas, Deus não é igual a nós. Se eu não sei nem mesmo o que é ser um cego ou um paralítico, como vou saber como é que é ser Deus? Só podemos conhecer de Deus o que ele nos revelar, pois nenhum homem é capaz de perscrutar os caminhos de Deus.

Os pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos, nem os nossos caminhos, os caminhos de Deus. Porque, assim como os céus estão mais altos do que a terra, assim são os caminhos de Deus mais altos do que os nossos caminhos, e os seus pensamentos, mais altos do que os nossos pensamentos. Então, está na hora de aceitarmos que Deus é Deus, que não podemos entender seu modo de agir, ainda que muito do que ele faz caiba em nossa compreensão. É difícil alguém aceitar, por exemplo, que é através da dor que Deus pode fazer alguém amadurecer e crescer, que uma experiência difícil que se prolongue seja o modo de Deus preparar alguém para coisas maiores e melhores. Deus é soberano, justo e bom, o que deveria ser suficiente para nele confiarmos. Ele sabe o que faz. Mas, é exatamente aqui que nos revelamos, pois, ao invés de confiarmos em Deus como ele é, queremos um deus ao nosso modo.

Deus não tem surpresas, mas nós sempre somos surpreendidos pelas ações de Deus. Dar razão para Deus em tudo é uma bela maneira de mostrar confiança nele. Não sabemos tudo sobre Deus e jamais saberemos, mas o que conhecemos dele é suficiente para nele confiarmos plenamente. É uma questão de fé. Por isso, não há muito que discutir. A Bíblia fala muito da pessoa de Deus, como ele é e como age. Sabedores disso, confiamos ou deixamos de confiar em Deus. Porém, não precisamos tentar começar tudo do nada, pois já está mais que constatado e experimentado que felizes são todos aqueles que em Deus confiam. Prefiro confiar no Deus que me surpreende que viver surpreendido com as minhas decepções. “Andamos por fé e não pelo que vemos”. Então, que venham as surpresas de Deus, as coincidências divinas, e as lógicas da vida, pois Deus trabalha em todas elas para o bem dos que o amam.

Antonio Francisco - Cuiabá, 5 de janeiro de 2012 - Voltar para Um novo caminho.

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