Crentes masoquistas

Você gostaria de ser escravo de alguém? Gostaria de ser explorado por sua fé? Gostaria de ser enganado? Gostaria de ser desprezado e esmurrado? Acredito que não. Mas nem todos têm essa consciência. Por incrível que pareça, muitos gostam de ser espancados com palavras e regras. São masoquistas religiosos. Tenho falado e escrito que a maioria dos crentes não conhece a liberdade em Cristo.

A vida nova conquistada na cruz por Jesus é comentada, pregada, cantada e propalada de tantas maneiras, mas é vivida por bem poucos. Muitos que confessam ser de Jesus na verdade são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, vivem em função dos próprios desejos, se orgulham de coisas vergonhosas, e só se preocupam com as coisas terrenas.

Mas, se não bastasse o fato de que muitos crentes não conhecem o descanso de alma que só Jesus oferece, os que já vivem nesse descanso podem voltar a carregar fardos espirituais, morais, culturais, eclesiásticos, familiares, e assim por diante. É por isso que a Bíblia diz: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão” (Gl 5.1).

Paulo pregou o evangelho aos coríntios. Eles creram, mas depois se deixaram levar por falsos apóstolos que ensinavam de forma contrária ao evangelho de Cristo. O pior é que eles passaram a gostar da falcatrua religiosa. Mas, veja o que disse Paulo ao fazer sua defesa apostólica: “Tolerais quem vos escravize, quem vos devore, quem vos detenha, quem se exalte, quem vos esbofeteie no rosto” (2Co 11.20).

Aqueles crentes aceitavam exploração de lobos vestidos de ovelhas. Eles subestimaram o evangelho, ignoraram Jesus, aceitaram outro espírito, se deixaram esbofetear, tudo por causa da aparência ludibriosa da verdade. Aqueles falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, aparentavam ser apóstolos de Cristo, mas eram ministros de Satanás.

Aqueles crentes se tornaram masoquistas da fé. Eles foram enganados pela serpente do mal, suas mentes foram corrompidas, e se apartaram da simplicidade e pureza devidas a Cristo. Eles começaram bem, mas, caíram no engodo dos larápios religiosos.

A história do cristianismo é feita com raras exceções, dos masoquistas religiosos. Ainda nos primeiros séculos crentes se isolavam para viver nos desertos sem nenhum conforto digno. Tudo em nome da fé. O próprio Lutero se atormentava por não conseguir se livrar do sentimento de culpa por causa de seus pecados, até que entendeu que o justo vive pela fé.

Na igreja primitiva, muitos crentes toleravam a escravidão espiritual, eram devorados como ovelhas na boca de feras, viviam aprisionadas em suas crenças, eram humilhadas e até mesmo agredidas fisicamente. Eles trocaram o evangelho de Jesus pelas filosofias vãs, conforme as tradições dos homens, que nada tinham a ver com Cristo. A verdade é que eles desconheciam a plenitude da Divindade em Cristo. Eles não conseguiam assimilar que em Cristo estamos aperfeiçoados, recebemos uma nova vida, morremos com Cristo e com ele ressuscitamos. Não conseguiram perceber que todos os nossos pecados foram perdoados e que em Cristo estamos livres das cadeias do mal.

Como eles naquele tempo, muitos hoje são discípulos de pastores e líderes de igrejas que controlam a vida dos incautos. Vivem presos a cerimônias e ritos que nada oferecem. Muitos são controlados por falsas profecias e seguem regulamentos minuciosos de conduta. A culpa persegue essas pessoas. Não menos condenáveis são os que se orgulham de suas organizações eclesiásticas, sua história centenária, suas doutrinas “perfeitas”, seus templos suntuosos, seus nomes idolatrados.

Chega de masoquismo religioso em nome de Jesus. Seguir a agenda de uma igreja não quer dizer nada se a pessoa não vive o evangelho; participar de um culto animado não anima quem vive no pecado; pertencer a uma organização que tem uma longa história e tradição não garante a vida eterna para ninguém. Em Jesus chegou a alforria.

Antonio Francisco - Cuiabá, 19 de agosto de 2011 - Voltar para Um novo caminho.

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