Brincando no Casamento

O texto de Mateus 11.16-19 é maravilhoso pelas ricas lições que nos dá. Conquanto pareça mostrar um cenário melancólico, ele é rico em lições positivas, como podemos ver na reflexão que fazemos aqui, inclusive em relação ao casamento. A vida conjugal é longa, diversificada e como diz a Bíblia, é um "mistério". Brincar é um ingrediente importante no casamento. Eu diria que um casal que não brinca, vive pela metade.

“Mas a quem hei de comparar esta geração? É semelhante a meninos que, sentados nas praças, gritam aos companheiros: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não pranteastes. Pois veio João, que não comia nem bebia, e dizem: Tem demônio! Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores! Mas a sabedoria é justificada por suas obras” (Mt 11.16-19).

O problema da insatisfação
Pessoas insatisfeitas geralmente vivem de fantasias. Elas não encaram a realidade, são egoístas e bitoladas; têm comportamento de crianças, e quase sempre querem o oposto do que está acontecendo. Assim eram os líderes religiosos de Israel. Deus enviou João Batista, uma espécie de ermitão, reservado, sério, mas eles não gostaram dele; depois veio Jesus, urbano, sociável, alegre, mas eles também não gostaram de Jesus. Pessoas assim são incapazes de apreciar as coisas boas da vida. Não conseguem ver na simplicidade os valores importantes; são fechadas para novidades, e contraditórias com elas mesmas. Ao mesmo tempo em que não gostam de nada do que está acontecendo, também não se abrem para coisas novas. Elas não toleram o que lhes desagrada. O problema é que nada lhes agrada. Isso no casamento fica insuportável.

Infantilismo emocional
Pessoas assim costumam ser mal-humoradas, facilmente ficam emburradas, e não sabem aproveitar a vida com naturalidade. Muitas pessoas têm esse problema no casamento; elas não se comportam conforme a idade biológica, mas como crianças ou adolescentes. São muito emotivas, melindrosas, e ciumentas.

Brincando no casamento
O casamento também é feito de brincadeira, brincadeira de gente grande, mas brincadeira. A vida conjugal é longa e não sobrevive apenas com seriedade e moralismos que não qualificam a relação. Casamento é feito de alternativas, combinações e diferenças. Quem não sabe dissimular e deixar pra lá muitas coisas no casamento, pode morrer de tédio. Tem a hora do riso e tem a hora do choro, a hora da dança e a hora do enterro. Se você não entrar no ritmo do outro, não dá. Quem casa não pode viver engessada, ser intolerante e inflexível. Quem casa não pode ignorar o momento do outro, o dia do outro, o humor do outro, a vontade do outro, e a oportunidade do outro.

O casamento também acontece na praça
Quando os meninos estão na praça brincam e pulam. Os casados se beijam, se cheiram, se lambuzam, se melam. Esse é o ambiente da praça. Casamento é coisa séria, mas também precisa de leveza, de um pouco de gaiatice. Muitos casais passam a vida inteira sentados na praça e não brincam.

Espontaneidade e intensidade
Quando o casamento é funcional e saudável, a relação fica mais espontânea e intensa em seus valores à medida que o tempo passa. Mas, muitos casais nunca brincam, ou deixam de brincar e passam a competir entre si. Os meninos do texto bíblico estavam gritando de reclamação, ao invés de gritarem de alegria. Quanta gente gastando sua energia no casamento para brigar, reclamar e não para brincar e fazer o outro feliz.

Nenhum casamento sobrevive de negatividade
Os meninos não choravam nem dançavam. Assim vivem muitos casamentos, tudo parece negativo na relação. Tem gente que se associa tanto ao negativo que mesmo falando de algo positivo ela é negativa, como fizeram com Jesus. Ele era amável, acessível, cheio de graça. Mesmo assim foi visto como um glutão, bebedor de vinho e amigo de pessoas inaceitáveis. Essa cosmovisão negativa destrói qualquer casamento. Pessoas assim não choram com os que choram, nem se alegram com os que se alegram.

A importância do equilíbrio
Um casamento saudável é equilibrado. Nele há alegria e tristeza, pois é assim que a vida é. Uma pessoa normal não vive sempre alegre nem sempre triste. Mas as duas expressões de sentimentos, tanto da dança como do pranto fazem parte de uma vida equilibrada. A capacidade de viver entre esses dois pólos é o que dá sentido à vida.

A poesia no casamento
Os poetas compõem melhor no choro ou na alegria. É entre a dança e o pranto que a vida acontece. O casamento ondula entre essas duas realidades, e nesse meio devemos brincar fazendo poesia com a vida. O livro dos Salmos ilustra bem isso. Ele fala de angústia, mas de forma poética. O livro de Cântico dos Cânticos fala do prazer físico, mas também de forma poética. A poesia pode estar tanto no prazer quanto no doer.

Onde estão os meninos?
Nunca devemos perder o espírito de menino dentro de nós. Algumas pessoas morrem aos vinte anos e são enterradas aos sessenta. Bom é quando você se olha no espelho com sessenta anos e se sente com vinte. A vida não pode perder a leveza. Precisamos parar de complicar e aprender a brincar. Isso pode acontecer plenamente de forma respeitosa e sem inconveniências. Precisamos curtir a vida dentro do casamento. O casamento acaba quando o casal não sabe mais brincar, apreciar-se, curtir a vida.

Hoje é o dia da salvação
Hoje é o dia sobremodo oportuno, hoje é o dia da salvação de seu casamento. Menino, procure sua menina, faça carícias nela, afague seus cabelos, beije sua menina com muito carinho. Menina, procure seu menino, mostre amor, apreciação e respeito por ele. Levantem-se do banco da praça e comecem a brincar. A praça é nossa! Deixem os meninos livres, se libertem-se da religião castrante, moralista, e opressora.

Antonio Francisco - Cuiabá, 6 de agosto de 2011 - Voltar para Encontros de Casais.

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