O Bom Pastor e suas ovelhas

Jesus disse: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). A acessibilidade de Jesus é facilmente percebida por todos que lêem os evangelhos. Não havia nenhum cordão de isolamento entre Jesus e as pessoas. Ele era totalmente aberto a todos; era criticado pelos líderes da religião oficial porque ia além dos costumes aceitáveis, mas nisso estava o diferencial de Jesus.

Jesus abraçava as crianças, e isso não era tão popular como hoje; ele conversava em público com mulheres, e isso não era bem visto; ele tocava em leprosos, algo proibido; ele curava no sábado, e isso ofendia aos legalistas; ele comia e bebia na companhia de pessoas marginalizadas; ele se deixava tocar pelos enfermos e as prostitutas; ele parava na rua para atender o clamor dos aflitos; enfim, Jesus era completamente acessível.

Como o bom pastor que dá a vida pelas ovelhas, Jesus vem ao encontro de seu rebanho, entra pela porta no aprisco das ovelhas e as conduz para fora. Ele chama cada ovelha pelo nome e é seguido por seu rebanho que conhece a sua voz. Ele não tange as ovelhas, ele é seguido por elas. Essa é a liberdade que o bom pastor dá às suas ovelhas; segue-o quem quer; quem quiser, pode ficar para trás, tomar outra direção, ou procurar outro pastor. O diferencial é que o bom pastor Jesus conhece suas ovelhas e elas o conhecem. Esse mútuo conhecimento é a razão de ser da igreja. Não há necessidade de cabrestos, de aguilhão, de ameaças, de chantagens e cadeados na porta do aprisco. A relação entre pastor e ovelhas baseia-se no conhecimento mútuo, no experimento, na vivência. O referencial de tudo é o pastor, não o curral (templo), o cajado ou a vara.

Jesus é a porta das ovelhas. Se alguém entrar por ele será salvo; entrará, e sairá e achará pastagem. Porta fala de abertura, de acesso, de entrada, de saída. Entrar por Jesus é encontrar a salvação, o perdão dos pecados, abrigo, refúgio, segurança, proteção. É isso que Jesus nos oferece. Sair fala de liberdade, crescimento, novidade, recomeço, oportunidade. Em Jesus podemos entrar e sair. Entrando encontramos salvação; saindo achamos pastagem. Essa é a vida cristã, uma vida dinâmica onde podemos andar com os nossos pés, ouvir o nosso nome nos lábios de Jesus, seguir àquele que nos conduz aos pastos verdejantes e às águas de descanso. Ser ovelha do rebanho de Jesus é ter certeza que bondade e misericórdia nos seguirão todos os dias de nossa vida. Que ovelha não deseja habitar na Casa do Senhor para todo o sempre!?

Jesus diz que veio para nos dá vida em abundância. Isso me parece claramente paradoxal ao olharmos para aqueles que se dizem ovelhas de Jesus em nossos dias. O que vejo nas igrejas é um povo triste, acomodado. Entre esses existem aqueles que estão cansados vivendo na base do desempenho para agradar a Deus; outros tantos são legalistas, de mente estreita, reconhecendo apenas os membros de sua igreja como pertencentes a Deus. Gostam de aplicar o seguinte versículo para aqueles que deixam de congregar com eles: “Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos”. Fazendo assim, se declaram o supra-sumo do povo de Deus, dizendo que não andar com eles é se desviar de Jesus. Mas isso não é verdade.

Tenho dito e direi que ninguém precisa ser “evangélico” para ser do Evangelho. Leia a Bíblia, reúna sua família para isso, convide amigos e forme um grupo de compartilhamento à luz das Escrituras Sagradas, falem de seus problemas juntos, orem a Deus uns pelos outros, e isso é ser igreja. Não precisa de placa, templo, CNPJ nem qualquer outra forma de institucionalização. Jesus disse: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”.

A Comunidade do Caminho é um exemplo de como é possível ser igreja conforme o Evangelho de Jesus. Realmente nos sentimos numa caminhada com Jesus. Vejo cada dia que nos distanciamos do jeito de ser “evangélico”. E isso só acontece porque vivemos na simplicidade do evangelho. Ainda hoje falei para as pessoas no encontro que tivemos que, se procurássemos uma igreja para sermos membros, a maioria de nós não seria aceita, até que nos ajustássemos aos “padrões”, tendo que mudar muita coisa em nós. É por isso que digo que não somos “evangélicos”.

Entre nós todos são aceitos como são sem imposições nem condicionamentos. Entre nós não há processos ou etapas para que alguém seja aceito. Entre nós vem quem quer e fica quem gosta. Não existe formalismo para entrar nem para sair. O que nos une é o amor de Deus, a Deus e uns pelos outros. É fácil viver entre nós, pois ninguém é enquadrado em nenhum sistema. A liberdade e o compromisso de cada um são mostrados conforme o que cada um é e não de acordo com o modelo oferecido pela igreja. O que importa para nós é a centralidade de Jesus que nos dá vida e nos edifica. Cada um vive conforme sua consciência no evangelho. Ajuntamos-nos para celebrar e adorar ao Senhor, orar juntos uns pelos outros, cultivarmos nossa amizade e comunhão, nos edificarmos nas Escrituras Sagradas, e depois saímos para a vida como ela é. Estamos completamente satisfeitas na condição de ovelhas, pois temos o bom Pastor.

Antonio Francisco - Cuiabá, 29 de junho de 2011 - Voltar para Um novo caminho.

Comentários

Josymar disse…
Muito bom o post