Como resolver conflitos na comunidade

A Bíblia é maravilhosa não apenas por suas revelações acerca da natureza de Deus e suas promessas, mas também por seu realismo quanto à vida. A Bíblia não encena e não maqueia, ela fala da vida exatamente como ela é. Por isso, devemos encarar a vida com sinceridade e transparência sem aparentar nada, mas vivendo conforme os fatos. Isso se aplica aos nossos relacionamentos interpessoais.

“Disse Jesus a seus discípulos: É inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual eles vêm! Melhor fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse atirado no mar, do que fazer tropeçar a um destes pequeninos” (Lc 17.1-2).

Existem conflitos entre aqueles que andam com Jesus. “É inevitável”. Eles acontecem mesmo. Essa é a realidade. Deveriam ser evitados, mas a verdade é que eles acontecem. Como disse um ministro da república há muitos anos: “Quem vive em comunidade deve ser mais transigente que exigente”. Porém, como a maioria das pessoas é mais exigente que transigente, os conflitos têm sido inevitáveis entre irmãos na fé. Mas Jesus disse como devemos proceder nessas ocasiões. Veja Lucas 17.3-10.

1. Os conflitos não anulam a fraternidade. “Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti”. A maioria dos conflitos na comunidade dos que creem acontece entre os relacionamentos interpessoais. Por isso foi que Jesus disse: “Cautela”. É preciso cuidado para não escandalizar, para não pecar, e para saber lidar quando há conflitos. Quando isso acontece não significa que somos falsos irmãos, que não nos amamos, nem que deixamos de ser de Jesus. É bom lembrar o que escreveu João, o velho apóstolo do amor: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1Jo 2.1). Quando um irmão pecar contra a gente, devemos proceder como disse Jesus. Prioritariamente, os conflitos devem ser tratados apenas entre as partes sem a necessidade de terceiros.

2. A repreensão se faz necessária diante do pecado. “Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o”. Ser discípulo de Jesus não anula nossos sentimentos nem o amor próprio. Quando ofendidos, sentimos dor, tristeza, ou raiva. Não devemos deixar de amar o irmão que nos ofendeu, mas também não devemos ignorar o pecado que ele cometeu. Jesus disse: “repreende-o”. O confronto é necessário e salutar para ambas as partes e para toda a comunidade. A amargura de uma pessoa pode contaminar muitos irmãos (Hb 12.15). A Bíblia diz: “Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto” (Pv 27.5). Ao invés de ficar falando mal da pessoa que pecou contra nós, devemos tratar da questão diretamente com ela; não para brigar, mas para correção e reconciliação. Devemos ser pacientes e mansos no jeito de falar (2Tm 2.24-26).

3. A repreensão deve resultar em arrependimento. “se ele se arrepender...”. Jesus disse que o objetivo da repreensão é ganhar o irmão que pecou. A repreensão deve ser argumentada de um modo sábio e calmo, capaz de fazer o ofensor ouvir (Mt 18.15). O arrependimento consiste em reconhecer o erro sem justificativas, caso contrário, a repreensão pode gerar uma confusão a piorar ainda mais o que aconteceu antes. Arrependimento é mudança de pensamento, sentimento e atitude. João Batista disse ao povo: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” (Mt 3.8). Ou seja, quando uma pessoa se arrepende de seu pecado, ela mostra evidências práticas disso. No caso de ofensas entre pessoas, o arrependimento deve resultar em reconciliação entre as partes e a disposição de não repetir o que aconteceu.

4. O arrependimento deve ser retribuído com o perdão. “se ele se arrepender, perdoa-lhe”. É interessante observar o processo do perdão. Jesus mandou ter cautela, confrontar, e, diante do arrependimento, perdoar. O perdão nunca deve ser negado para quem se arrependeu do mal que cometeu (Lc 17.4). Gosto sempre de comparar o perdão como uma abelha sem ferrão. Quando há arrependimento e perdão, o ofendido não pica mais o ofensor com o que aconteceu. Depois do perdão tudo renasce. O perdão é a marca do cristão. Mas, perdoar não é algo natural. Depois que Jesus mandou perdoar sempre, os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta-nos a fé”. Jesus disse que a fé que temos é suficiente para oferecer perdão. Quem conhece o perdão do Senhor, jamais poderá negar perdão a quem lhe ofendeu. O dever de perdoar é tão real para o discípulo de Jesus, como o dever de um servo em obedecer ao seu senhor (Lc 17.5-10).

Prezamos por uma fraternidade verdadeira na Comunidade do Caminho. Temos plena consciência de nossa unidade indivisível (Ef 4.3). Mas, somos igualmente conscientes da condição humana sujeita ao pecado. Quando isso acontece, somos ensinados por Jesus a mostrar nosso desagrado confrontando a quem nos ofendeu. Devemos confrontar sempre em amor, mas confrontar. O irmão que errou, ou as partes que erraram devem se arrepender, reconhecendo o pecado e mudando de atitude. A disposição de sempre perdoar deve ser mantida, mas deve ser precedida por arrependimento por parte de quem errou. Oferecer perdão como se oferece balinhas para crianças pode ser um incentivo para o agressor e uma porta que se abre para relações de aparências. Isso deve ser evitado. A qualidade de nossa comunhão, não deve temer confrontação ao pecado.

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Antonio Francisco - Cuiabá, 5 de abril de 2011 - Voltar para Um novo caminho.

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