Veja como a religiosidade pode destruir

A pobreza da religiosidade é lastimável. Jesus falou de um homem rico cético, materialista, egoísta e fanfarrão, que teve um final miserável em meio à abundância de bens (Lc 12.13-21). Aquele homem não era religioso, mas, não menos grave foi a situação de um jovem rico religioso. O primeiro era incrédulo, o segundo era devoto, mas não menos grave era sua situação em relação ao primeiro.

Esse relato aparece nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos, Lucas). Apenas Mateus diz que ele era jovem (Mt 19.22). Então, fica claro que esse homem estava em pleno vigor de sua vida. Marcos diz que ele correu ao encontro de Jesus e se ajoelhou diante dele fazendo-lhe uma pergunta, elogiando-o e querendo saber o que fazer para herdar a vida eterna. Lucas diz que ele era um homem de posição (Lc 18.18).

Veja o anseio daquele homem. Ele correu e prostrou-se diante de Jesus. Era um homem faminto de Deus. Isso é inerente a todo ser humano. O salmista disse: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (Sl 42.2). Ele se ajoelhou, era religioso, piedoso, devoto, conhecia ritos. Ele chama Jesus de “Bom Mestre”. Ele queria fazer algo para ganhar a vida eterna. Aquele homem participaria de qualquer campanha de igreja hoje em dia, com excelente desempenho. Ele faria qualquer sacrifício, subiria em qualquer monte, estaria em qualquer vigília, jejuaria quantas vezes se pedisse dele. E daí?

Jesus dirige a atenção do jovem para Deus. Não que Jesus não fosse Deus, mas é que o jovem o via apenas como um homem. Jesus leva o homem a perceber sua superficialidade espiritual. Os Dez Mandamentos foram escritos em duas tábuas de pedras. A primeira continha os mandamentos relacionados com Deus; a segunda tábua, os mandamentos relacionados com os homens. Jesus mencionou para o seu admirador a segunda lista. Ele disse para Jesus que nunca tinha matado, adulterado, furtado, falado falso testemunho, defraudado, e que honrava pai e mãe. Disse que isso fazia parte de seu estilo de vida há muito tempo.

Certamente o “jovem rico” seria aprovado em qualquer classe de catecúmenos, classe de membresia, preparação para o batismo de qualquer igreja evangélica no Brasil. Além disso, ele era rico, seus dízimos seriam desejados por todas as tesourarias. Tendo o comportamento que tinha antes mesmo de entrar na igreja, logo ele seria um líder, um presbítero, com certeza; até porque ele já era líder na vida secular. Um homem de boa reputação e rico como aquele, seria recebido como uma grande bênção no meio dos crentes. Pois, se tem uma coisa que igreja de crente valoriza, é gente bem comportada e rica. Basta observar quem são os líderes das igrejas. Quase sempre são os ricos e academicamente bem preparados. O jovem rico estaria em casa em qualquer igreja.

Depois de dizer para Jesus o que parecia ser sem ser, Jesus olhou para o homem com amor, e disse: “Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me” (Mc 10.21). Aquele era um típico crente nominal. Só lhe faltava uma coisa: TUDO. Ele não vivia nada do que dizia praticar. Sua obediência era apenas externa, superficial. A prioridade do jovem eram seus bens. O dinheiro era seu ídolo. Ele estava pronto para dar uma esmola, fazer uma boa doação, mas não abrir mão de tudo por Jesus. Isso é muito comum no meio dos crentes.

O que importa para Jesus não é quanto damos, mas com quanto ficamos. Grandes somas doadas não recebem seu louvor quando o que se dá são sobras. Jesus disse que a viúva pobre deu mais que todos os outros ofertantes. “Porque todos eles ofertaram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento” (Mc 12.43-44). Ela havia dado apenas duas moedinhas.

Com raras exceções, a vida no meio evangélico acontece no mundo das conveniências. O que se diz crer, o que se canta, o que se prega, o que se ouve, não bate com o que se vive. Sei do que estou falando. Escute as pregações, ouça as músicas, observe as vidas, e a conclusão é uma só. A igreja evangélica se tornou uma religião de conveniências. Deus continua falando através do profeta Amós: “Aborreço, desprezo as vossas festas e com as vossas assembleias solenes não tenho nenhum prazer. [...] Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos, porque não ouvirei as melodias das tuas liras” (Am 5.21-27). Citando as palavras do profeta Isaías, Jesus disse para os religiosos de seus dias: “Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Mt 15.7-9).

O jovem rico sabia se ajoelhar e fazia bonitas confissões, mas não amava a Deus nem ao próximo. Vivia em função de seus interesses. Estava disposto até a fazer algo, desde que fosse para a sua salvação eterna. É o que se vê hoje entre muitos evangélicos. As campanhas, as consagrações, as doações, têm como finalidade receber cada vez mais. A palavra de Jesus para que o homem vendesse tudo, desse o que tinha aos pobres e o seguisse, o contrariou. Ele parece ter chegado a Jesus entusiasmado, mas retirou-se triste, porque não quis abrir mão de suas muitas propriedades por Jesus.

Como já disse, aquele homem era um bom religioso, e hoje seria um crente de primeira categoria em qualquer igreja evangélica. Esse é o grande problema dos crentes. Confundem moralismo com santidade, emocionalismo com manifestação do Espírito, sobras doadas com generosidade, gueto com comunhão, regras eclesiásticas com a Palavra de Deus, recados humanos com profecias, e assim, seria enorme a lista.

As igrejas estão cheias de pessoas vazias; pessoas bem intencionadas (nem todas), mas sem conhecerem Jesus. Acham que o sistema religioso em que vivem e a instituição a que pertencem, é a maneira de fazer a vontade de Deus. Quem anda com eles é gente boa, quem não anda com eles é desprezado, mesmo que já tenha sido um deles. Ser religioso e andar com Jesus é completamente diferente. Você já percebeu a diferença?

Antonio Francisco - Cuiabá, 24 de dezembro de 2010 - Voltar para Um novo caminho.

Comentários

Josymar disse…
"As igrejas estão cheias de pessoas vazias; pessoas bem intencionadas (nem todas), mas sem conhecerem Jesus. Acham que o sistema religioso em que vivem e a instituição a que pertencem, é a maneira de fazer a vontade de Deus. Quem anda com eles é gente boa, quem não anda com eles é desprezado, mesmo que já tenha sido um deles. Ser religioso e andar com Jesus é completamente diferente. Você já percebeu a diferença?"

Infelizmente, esse sentimento que sinto, de ter vivido em uma pseudo-comunidade evangélica, (acho que) vou sentir pelo resto da minha vida e com pesar no coração que muitos não enxergam as mentiras ou as contradições que são pregadas nos púpitos eas ofertas dos azofilácios não são totalmentes verdadeiras.
Que Deus nos ilumine e que nos mostre as verdades para vivermos uma verdadeira vida em Espirito e em verdade.
DE:
JOSYMAR
Gl 6:14