Tempo de quietude

Minha psicóloga me escreveu: “Há tempo pra tudo... tempo de avançar e tempo de aquietar para ouvir a voz de Deus. O segredo estar em descobrirmos em qual tempo estamos”. Liguei isso com o Salmo 46 que fala de um mundo agitado. É perigoso sair de casa, seja de noite, ou durante o dia. Muitas pessoas ameaçam e são ameaçadas no dia a dia, e isso é muitíssimo desagradável. Deus nos ajude!

Paulo escreveu para Timóteo dizendo: “Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes” (2Tm 3.1-5). Fica claro nessa passagem bíblica, que os males dos últimos dias da humanidade na terra, são provocados pelos próprios homens. Os males sociais vêm de dentro do coração das pessoas (Mt 15.19).

A verdade é que vivemos em um mundo violento, seja em casa, na rua, na cidade, no campo e qualquer lugar. Quando não é a violência das ações humanas, é a mobilização da própria natureza com seus vendavais, tornados, terremotos, tsunamis e tantas outras manifestações aterradoras.

O que de melhor podemos fazer para conviver com esse mundo agitado? Há algo que podemos fazer para fazer toda a diferença. Sim, podemos orar. A violência na terra não deve tirar nossos olhos de Deus. Quando olhamos para Deus em meio a agitação, a cidade se transforma. O Salmo 46 nos fala da violência na natureza com terremotos, vulcões, inundações; fala também da violência política com nações iradas e reinos desintegrados. A violência militar também fica em evidência no salmo, pois fala de guerra, arco, lança e carros bélicos. Essas três expressões de violência estão vívidas em nossos dias: natureza agitada, nações em disputas, guerras pessoais e militares.

Mas, o caos não deve tirar nossos olhos do cosmo de Deus. Nenhuma brutalidade pode ser mais real para nós do que o próprio Deus. “O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio”. O Deus que guerreia por nós é também familiar.

O Salmo fala da “cidade de Deus”. Para os filhos de Corá essa cidade poderia ser Jerusalém, mas para mim é Cuiabá. Deus mora na cidade em que moro. Ele está no meio dela. Não preciso me retirar para um campo tranquilo. Ele está aqui na cidade agitada e violenta. Ele está onde estou. Seu santuário fica aqui mesmo.

O salmista diz que “há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus”. No mundo antigo, como hoje, muitas cidades eram e são edificadas às margens de um rio, porque rio fala de permanência, abastecimento, suprimento. Deus está na cidade pra ficar. Ele não é um visitante, mas um morador. Isso deve fazer toda a diferença para nós. A habitação de Deus inclui o rio e o asfalto, o que o Criador fez e o que o pedreiro faz. Quando aprendermos a caminhar com Deus na cidade, não faremos mais diferença entre meditação e poluição, entre o banco da “igreja” e o banco da praça.

A segurança que Deus nos oferece extrapola a agitação tão visível na cidade. A vulnerabilidade da vida requer coragem para que oremos como o salmista (Sl 46). É preciso fé de fato para afirmar em oração que Deus está no meio da cidade; que ela jamais será abalada; que Deus a ajudará antes mesmo que o dia comece. Afinal de contas Jesus se fez homem e habitou entre nós (Jo 1.14). Quando isso aconteceu nos dias de Jesus na terra, pouca gente tinha consciência disso. E hoje? Quem tem consciência que Deus está morando em nossa cidade? “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações”. Não precisamos temer, podemos nos aquietar sabendo que ele é Deus.

Repentinamente fui tirado do pastorado que exerci por vinte e um anos. Eu não escolhi que as coisas acontecessem assim. A maneira como isso se deu me doeu, mas estou recebendo como um presente de Deus. O Salmo 46 diz: “Vinde, contemplai as obras do Senhor”. Estou aceitando o convite, me aquietando nesse tempo criado para mim para que eu contemple as obras de Deus. Deus sabe desarmar os violentos, ele “põe termo à guerra”. Deus desarma meus adversários e me chama para a quietude. Aceito, Senhor.

Mas, a pior violência é aquela experimentada no meio do povo do Senhor. Deus abomina aquele que ama a violência (Sl 11.5). Entre os que lideram na igreja não deve haver violentos (1Tm 3); mas não é assim que as coisas acontecem. A violência entre os crentes quase nunca é com faca e bala, mas ela é comum em forma de ressentimentos, ódio, indiferença, frieza, desprezo, e decisões arbitrárias; tudo camuflado com a ilusão dos deveres religiosos cumpridos, tal qual aconteceu com o sacerdote e o levita, indiferentes com o viajante assaltado, ferido e caído na estrada (Lc 10). O que foi aquilo senão uma violência semelhante, igual ou pior que a do assaltante que provavelmente não tinha a mesma consciência ou pelo menos as informações sobre Deus como tinham os religiosos indiferentes, frios e calculistas!?

Sei que a violência na cidade não vai acabar no presente sistema que vivemos, mas o convite que Deus está me fazendo nesse momento é para a calma. Sim, quero e preciso contemplar as obras de Deus e ver seus grandes feitos. Assim farei. Ajuda-me Senhor.

Antonio Francisco - Cuiabá, 1 de outubro de 2010 - Voltar para Um novo caminho.

Comentários

Josymar disse…
Suas palavras foram bem colocadas.
Farei delas as minhas.
Amém.
Louvado seja o nosso Deus.